Por 6 anos eu liderei um grande projeto da empresa onde trabalhava. A equipe inicial era de 8 pessoas e quando saí éramos 17. Uma das minhas responsabilidades era contratar desenvolvedores para a minha equipe. Esta foi minha primeira experiência recrutando pessoas e você já deve imaginar que em 6 anos dá para aprender e melhorar muito.
Eu tinha um interesse em evoluir a empresa como um todo e ao passar do tempo me afiliei a outros gestores que compartilhavam das mesmas idéias em relação ao que considerávamos um bom candidato. Em conjunto nós melhoramos o processo seletivo da empresa com todo o apoio da equipe de Recursos Humanos.
Em alto nível, o processo funcionava assim:
- As vagas eram postadas no site e na nossa página do LinkedIn
- A equipe de RH revisava os currículos e fazia um primeiro contato.
- Havendo interesse do candidato, o RH encaminhava um desafio técnico a ser feito pelo candidato em seu próprio tempo.
- O desafio consistia em 2 algoritmos para candidatos juniores ou o desenvolvimento de um programa para analisar logs para candidatos plenos e seniores.
- Os líderes das equipes revisavam o código enviado pelos candidatos e os candidatos que tinham entregue uma versão funcional eram selecionados para uma entrevista.
- O candidato fazia duas entrevistas no mesmo dia: uma com o RH e outra com um ou mais líderes ou gerentes de equipe.
- A entrevista do RH tinha como propósito identificar o perfil psicológico do candidato e avaliar o que chamamos de “culture fit”, ou seja, entender se o candidato se encaixaria na empresa.
- A entrevista com os líderes era bastante técnica e além de revisar a solução do desafio enviado anteriormente, um novo problema era proposto para que o candidato resolvesse ali, durante a entrevista.
- Para candidatos sênior havia ainda uma outra etapa que consistia desenvolver a arquitetura de um sistema proposto por nós.
Apesar da entrevista do RH fazer uma avaliação do perfil, os entrevistadores da entrevista técnica também tomavam nota das respostas do candidato e de como ele se comportava durante a entrevista. O intuito era entender em qual equipe o candidato se encaixaria melhor.
Como você pode notar não é um processo fácil nem para o candidato nem para os entrevistadores, são muitas etapas. Como comentei no post Como é ser a única mulher da equipe?, durante os dez anos que passei nesta empresa, apenas 4 mulheres programadoras (incluindo eu) passaram por lá.
Por que tão poucas mulheres foram contratadas?
Primeiramente a quantidade de mulheres atraídas pelas vagas era baixíssima, se tivesse que chutar um número diria que era em torno de 1 mulher para cada 300 homens. Realmente os números eram estarrecedoramente pequenos. Todos os candidatos passavam pela etapa que comentei acima e então é de se esperar que nem todas passavam no primeiro filtro do desafio de código.
Se analisarmos a quantidade de mulheres que entraram no processo seletivo e a quantidade de mulheres que passava nesta primeira fase era muito maior em porcentagem comparada com os homens. Mas como os números eram muito baixos, pouquíssimas eram selecionadas para a segunda etapa do processo seletivo. Eu posso contar nos dedos de uma mão quantas mulheres eu entrevistei nestes 6 anos. Sim você leu certo, mais ou menos 5 entrevistadas mulheres durante 6 anos de processo seletivo. Cadê vocês? Em que lugar estão se escondendo?
Bem, dessas 5 que entrevistei apenas duas delas passaram no processo seletivo. Uma delas não aceitou nossa proposta e a outra foi a única mulher que eu contratei até hoje. Caramba! E o que houve com as outras candidatas? As outras não tinham o nível de conhecimento técnico adequado para a função que iriam exercer. Além disto, algumas estavam bastante despreparadas para a entrevista, me lembro de um caso em particular. Ela não parecia saber o que estava fazendo ali, parecia que tinha “caído” na área de tecnologia mas não parecia motivada o suficiente a aprender. Eu aproveitei a situação para dar um feedback indicando alguns possíveis caminhos que poderiam ajudá-la a evoluir e a se preparar melhor para futuras entrevistas. Espero que a tenha ajudado 🙂
Como atrair mais mulheres para o processo seletivo?
Olhando para trás vejo um erro fatal nesse processo seletivo: era pouco pró-ativo. A grande parte dos candidatos vinha dos inscritos nas vagas postadas, ou seja estávamos esperando os candidatos chegarem até nós. O tamanho da área de RH não permitia uma busca de candidatos ativa. Diversas vezes nos perguntamos por que tão poucas mulheres se inscreviam nas nossas vagas, mas não fomos capazes de perceber que se quiséssemos mais mulheres no nosso funil de contratação precisávamos de uma solução mais ativa.
A empresa na qual trabalho atualmente tem essa missão de aumentar o número de mulheres contratadas e para conseguir isto, a única forma é aumentar o número de mulheres que passa pelo processo. Para isto, um dos recrutadores ganhou essa missão de focar apenas em trazer mais mulheres para o processo seletivo. Isto significa que uma boa parte do parte do dia-a-dia desse recrutador consiste em buscar mulheres que estão atualmente no mercado de trabalho e convidá-las para participar do processo seletivo. Eu imagino que ações similares estão sendo executadas por outras empresas ao redor do mundo.
E o que isso significa para nós mulheres da tecnologia?
Significa que o mundo de tecnologia nunca foi tão bom para nós mulheres! Não há apenas falta de profissionais qualificados no mercado, há também uma busca pelo equilíbrio entre homens e mulheres nessa área. E como somos muito poucas, estamos muito bem valorizadas! Mas não se engane! Não é mais fácil se contratado só por que você é mulher, tenho certeza que o processo seletivo é igual para todos e apenas os melhores profissionais serão contratados. O que estou querendo apontar aqui é que nós mulheres temos agora mais oportunidades pois as melhores empresas de tecnologia do mundo estão fazendo um esforço tremendo para nos encontrar. Veja no post o mercado de tecnologia está bom para mulheres? sobre as iniciativas de empresas como Google, Facebook e Amazon para contratar mulheres.
E então? Bora ajudar a equilibrar essa conta? Se você está interessada em começar e não sabe como, veja minha série: lógica de programação. Se já sabe programar, veja também o conteúdo especial que eu preparei que te ajuda a se preparar para a primeira fase dos processos seletivos das melhores empresas de tecnologia: Top 4 algoritmos mais usados no HackerRank.