Como é ser a única mulher da equipe?

Meu Primeiro emprego de Desenvolvedora

Iniciei minha carreira na área de desenvolvimento de software há cerca de 15 anos atrás. Meu primeiro emprego foi muito ruim, era uma empresa pequena e desorganizada, eu era a única mulher da empresa. Fiquei lá apenas 4 meses pois logo notei que a empresa não tinha muito futuro. Apesar disto tive sorte pois mesmo sendo a única mulher não me senti fora do lugar, tinha um bom relacionamento com os colegas e os chefes. Enquanto trabalhei lá não me lembro de perceber ou sequer pensar que eu era a única mulher, vindo da faculdade onde haviam tão poucas mulheres na sala, não achei estranho.

Mudança de ares

Quando fui atrás de outras oportunidades fiz uma entrevista em uma empresa que me marcou muito. Era um ambiente descontraído com projetos interessantes, fiquei apaixonada pela empresa e até hoje me lembro onde estava quando recebi a ligação deles falando que havia passado no processo. Meu instinto estava correto, pois eu passei praticamente toda a minha carreira nessa empresa.

Em minha primeira passagem por lá, trabalhei por 3 anos e meio. Quando entrei, a empresa tinha cerca de 12 pessoas, quando saí tinham 30. Haviam outras mulheres na empresa, mas na área de desenvolvimento de software havia apenas uma, que saiu depois de alguns meses que entrei na empresa. Tive pouquíssimo contato com ela.

A empresa tinha um clima muito leve, as pessoas eram companheiras, todos se ajudavam. Ainda assim decidi sair para ter experiências diferentes já que tinha 4 anos de carreira e só tinha trabalhado em duas empresas.

Minha experiência trabalhando na TIM

Eu fui convidada por um ex-diretor a trabalhar com ele em um projeto da TIM. Fiquei interessada em saber como essas empresas gigantescas funcionam por dentro e também por que alguns dos meus ex-colegas também foram trabalhar lá.

Na TIM encontrei um ambiente totalmente oposto ao que estava acostumada, as coisas aconteciam devagar, tudo precisava de permissão de alguém para fazer. Era bastante moroso. Tive oportunidade de trabalhar com duas mulheres na mesma equipe, porém elas eram da TIM e nós éramos fornecedores. Elas eram técnicas mas não eram programadoras, eram analistas.

O relacionamento entre a empresa que eu trabalhava e a TIM era muito ruim, os funcionários da TIM nos viam como inimigos, contratados para fazer um trabalho abaixo da média. Apesar de ter conseguido reverter um pouco essa imagem, eu optei por sair pois além de não ser um ambiente de trabalho agradável não haviam desafios, eu não estava aprendendo nada.

Agência Digital

Quando saí da TIM fui trabalhar em uma agência digital, de lá me lembro de apenas uma mulher que exercia um cargo técnico,  ela trabalhava na área de infra-estrutura e e estava grávida, nas últimas semanas. Me lembro que ela optava por trabalhar, ela queria estar ali, dava para ver que se sentia bem. Mas não tive contato direto com ela, ali trabalhei cercada de homens. Não gostei muito do esquema de trabalho dessa agência e acabei voltando para a segunda empresa onde trabalhei e lá fiquei por mais 10 anos.

A boa filha à casa torna

Nestes 10 anos a empresa cresceu muito, dos 10 que éramos quando entrei até 100 funcionários só em São Paulo e mais um escritório no interior de São Paulo. Você consegue adivinhar quantas mulheres desenvolvedoras passaram por lá nestes 10 anos? Além de mim apenas 3!

Haviam mulheres em outros cargos como RH, Administração e Design, porém as mulheres representavam dentre 10% e 20% da empresa. Das 3 programadoras, trabalhei diretamente com uma, porém na ocasião ela fazia estágio na área de Qualidade, fazendo testes. Depois passou a fazer testes automatizados (o que requer programação) e em seguida virou programadora em outra equipe. Seu trabalho na área de Qualidade era excepcional, foi a melhor QA que já conheci. Apenas no último ano tive uma mulher técnica na equipe mas não era desenvolvedora, era especialista em Banco de Dados.

E você deve estar se perguntado, todo este tempo sendo a única mulher, já passei alguma dificuldade? Olha, eu creio que tive muita sorte, pois eu trabalhei em empresas onde o que contava eram seus resultados. Sempre fui reconhecida pelo trabalho que fiz e evoluí assim, focando e entregando sempre o melhor.

Já existiram situações chatas com piadinhas de esteriótipo de mulheres, sim é verdade. O Brasil sendo um país machista e patriarcal é de se esperar. Minha atitude sempre foi de ignorar (ou seja de não me aborrecer). Basicamente se a piada não era dirigida a mim especificamente eu deixava passar. E aí está meu grande erro. Ignorar não é suficiente. Ignorar resolve para mim por que eu não me sinto ameaçada e tão pouco ofendida, mas não resolve para outras pessoas. Então, como eu quero um mundo melhor para todos, precisamos conversar sobre esses assuntos. Não é aceitável fazer piadas que reforçam esteriótipos, como se todos os homens e mulheres fossem iguais. Sim, por que os esteriótipos não são apenas femininos são masculinos também.

Como lidar com situações de falta de respeito no trabalho

E o que fazer se você estiver passando por uma situação assim no trabalho? Se o foco for uma pessoa em especial, o ideal é você conversar com esta pessoa. Se a pessoa estiver fazendo comentários ofensivos é importante deixá-la ciente de que o o tipo de comentário não te agrada.

Me lembro de uma situação onde um colega de trabalho fez uma piada sobre mim em uma reunião com clientes. Depois de algumas horas ele veio conversar comigo pedindo desculpas que não queria me ofender. Eu falei, nossa tá tudo bem, a piada foi engraçada. E eu aproveitei este momento para apontar um outro tipo de piada que ele costumava fazer que eu achava ofensiva. Depois que conversamos sobre isso ele nunca mais fez este tipo de piada. Precisamos dar a oportunidade para as pessoas melhorarem e também precisamos dar o benefício da dúvida, pois a pessoa pode não estar ciente de que o conteúdo é ofensivo.

Se não tiver intimidade para conversar a sós, converse com a pessoa na ferramenta de comunicação que vocês utilizarem (Skype, Slack, etc). Caso não se sinta confortável converse, com seu líder. Se o líder não agir, ou se a situação continuar, você ainda tem a opção de conversar com o superior do seu líder ou o responsável pelo RH. Uma vez que nenhuma providência for tomada é um mal sinal de que a empresa onde você está trabalhando não se importa com o bem estar dos funcionários. E neste caso eu sugiro você procurar outro lugar para trabalhar onde as pessoas se respeitam.

Procure outro emprego

Bem, eu não vou mentir, existem muitas empresas por aí com ambiente de trabalho muito abaixo do mínimo aceitável mas há também empresas excelentes com pessoas de mente aberta e ambiente de trabalho descontraído e respeitoso. Eu acredito que se as mulheres tiverem boas experiências de trabalho vão sentir menos vontade de abandonar sua carreira.

No post como saber se a empresa e boa antes de entrar eu dou várias dicas de como identificar se a empresa onde está fazendo entrevista é interessante para você. Além disso, fiz um conteúdo especial para ajudar vocês a passarem em entrevistas das melhores empresas do mercado que utilizam a ferramenta Hackerrank para filtrar candidatos: aumente sua chance de passar na entrevista de programadora.

Durante toda a minha carreira as equipes que trabalhei eram predominantemente masculinas, sendo eu a única mulher.  Eu passei minha carreira inteira no Brasil sem NUNCA trabalhar diretamente com outra programadora. Mais um dos motivos por estar aqui, quero virar esse jogo. Se a tecnologia evoluiu tanto nas últimas décadas e só estávamos utilizando metade da força de trabalho do mundo, imagina o que poderemos fazer quando a outra metade se juntar à nós?

Não desistam! Há sempre uma luz no final do túnel.