RubyConf AU 2020 – Melhores palestras

Nos dias 20 e 21 de fevereiro participei da conferência de Ruby em Melbourne, Austrália. Eu sou nova em Ruby, comecei a programar em Ruby há menos de um ano antes disto programava em c#. Foi a primeira conferência de Ruby que participo e devo dizer que fiquei impressionada com a diversidade de assuntos das palestras.

Das 18 palestras 60% eram palestras técnicas com slides mostrando trechos de código, já o restante, ou seja, 7 delas tratavam de assuntos relacionados ao ambiente de trabalho, interação entre pessoas e diversidade no ambiente de trabalho.

A minha empresa patrocinou a ida de 10 desenvolvedores incluindo a palestrante Nancy Cai. Foi muito bom ver uma de nossas programadoras nos representando no evento. E também de ver pessoas nos procurando durante o evento querendo entender um pouco mais sobre a palestra dela e sobre nossa empresa.

Vou deixar aqui minhas impressões e um pequeno resumo sobre as palestras que mais me causaram impacto.

Nancy Cai – Quanta pressão seu sistema aguenta?

Quantos usuários simultâneos seu sistema consegue aguentar sem degradação da experiência do usuário? Isto é o que chamamos de ponto de quebra. Nancy nos mostrou como é importante ter esta informação o quanto antes para evitar futuros problemas.

Ela contou um fato real que aconteceu na nossa empresa, onde uma campanha de marketing bem sucedida derrubou o site. A campanha se tratava de uma oferta de $500 para brincar com cachorrinhos. Para participar você precisava se inscrever no site. Quem não quer ganhar $500 para brincar com animaizinhos fofos?

Resultado: o site não aguentou a quantidade de usuários e caiu.

Para evitar problemas como este, Nancy propõe uma “receita” a ser seguida para criar uma estrutura de teste de performance na sua empresa. Seguindo estes passos você terá uma visão clara de como seu sistema de comporta sobre pressão e poderá trabalhar nos pontos fracos para corrigí-los.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Q09wJm4P8Xw

Elle Meredith – Inicie seu programa de aprendizes

Elle explica que todas as empresas querem contratar desenvolvedores seniors. O mercado não consegue atender a esta demanda e por este motivo empresas como Apple, Google e IBM não exigem mais uma formação superior de seus candidatos. Esta decisão abre as portas para milhares de pessoas.

Ela explica que os métodos tradicionais de contratação não conseguem atender a demanda de crescimento das empresas, e é necessário inovar nesta área também para obter melhores resultados. Elle apresenta um programa de aprendizes como uma solução para este problema.

O modelo de aprendizes que Elle sugere é parecido com o modelo de estágio que temos no Brasil, em que o aprendiz trabalha por um valor abaixo do mercado. Há no entanto uma grande diferença: a presença de um mentor dedicado a auxiliar o crescimento desta pessoa na empresa.

Uma das vantagens apontadas por Elle deste modelo é o aumento da diversidade da companhia, pois o pool de candidatos é muito maior, já que estamos falando de pessoas sem experiência e até mesmo sem conhecimento na área de tecnologia.

Na palestra uma série de passos são apresentados para criar um programa de aprendiz na sua empresa. Ela conta também da experiência dela no Qantas Hotel, desde de como eles definiram o modelo, como entrevistaram os candidatos,  como faziam o acompanhamento dos aprendizes e como identificar se projeto havia sido um sucesso.

O que se nota é algo bastante distinto dos programa de estágio que conheço no Brasil, onde o estagiário é tratado como um funcionário normal, sendo sua única diferença que ele ganha menos e com baixas chances de ser contratado. O modelo de aprendizes que Elle está sugerindo tem o interesse em desenvolver o aprendiz com um acompanhamento constante e com o claro objetivo de contratá-lo ao final.

Este tipo de iniciativa é excelente para pessoas que estão iniciando agora, e pode ser uma oportunidade para todos que estão iniciando agora a começarem com o pé direito nessa área.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HVREurpIvsg

Jameson Hampton – Usando o sapato dos seus usuários

Jameson teve oportunidade de trabalhar em projetos completamente diferentes do usual e isto lhe trouxe uma visão diferenciada dos usuários de seus sistemas. Sua palestra fala sobre empatia, e a importância de entender seu usuário para poder criar um software adequado.

Um dos projetos que o impactou foi projeto que auxiliava a coleta de informações sobre a saúde de mulheres que haviam sido violentadas. Estes dados eram necessários para servirem como prova em tribunais.

Mas um dos grande diferenciais deste projeto é que os usuários eram africanos, da República do Congo. Jameson fez uma visita enquanto estava desenvolvendo o software e então pode entender as falhas de seu aplicativo.

Além da dificuldade de acesso à internet, os usuários não tinham conhecimento em tecnologia, e coisas que para nós são extremamente intuitivas não faziam sentido para estas pessoas. Jameson conta que esta experiência mudou totalmente o rumo da aplicação e ao final foram capazes de construir um software adequado às necessidades de seus usuários.

Esta palestra foi especial para mim pois mostra como ainda temos um longo caminho a percorrer para tornar a tecnologia realmente acessível à todos. Este é um dos motivos que necessitamos de pessoas dos mais variáveis backgrounds para criarem soluções acessíveis.

Selena e Michael – Melhore seu trabalho em equipe com Pair Programming

Pair programming é uma técnica utiliza em algumas empresas de software onde dois programadores trabalham juntos em um código único. Com apenas um computador e um teclado, o “motorista” escreve o código e a “copiloto” faz comentários e dá dicas, não deixando o motorista desviar o caminho. A ideia é que eles troquem de posto periodicamente.

Selena e Michael apresentaram o conteúdo como um teatro. Selena era nova na empresa e Michael tinha sido encarregado de auxiliá-la. No início Michael age como verdadeiro idiota, deixando Selena bastante desconfortável.

Cortando a unha enquanto ela trabalhava, sem paciência para explicar o que precisava ser feito, fazendo barulho para tomar seu café e por aí vai.

Em certo momento eles se separam no palco, fazendo uma retrospecção do dia até aquele momento. Quando se unem de novo, Michael comenta com Selena sobre seus filhos, seus projetos pessoais e Selena fica comovida.

Eles então voltam ao computador e comentam o que precisariam mudar para trabalharem melhores juntos, e decidem trabalhar no modo ping-pong. Onde um deles escreve o teste da funcionalidade e o outro escreve a funcionalidade em si.

Michael faz uma breve explicação do funcionamento atual da aplicação em que estão trabalhando e a partir daí o trabalho deles flui muito melhor. No final eles fazem uma retrospectiva apontando os pontos que foram bons e ruins naquele dia.

Esta palestra foi de longe a mais divertida, mas também nos proporcionou uma ideia de como nossos hábitos podem ser ofensivos para outras pessoas.

Creio que a principal lição aqui é: quando você está trabalhando com outra pessoa, realmente dedique seu tempo a ela, não coma, tome café, ou fique olhando no seu celular enquanto a outra pessoa está digitando. Eu consegui identificar alguns hábitos meu em Michael e vou prestar mais atenção de agora em diante!

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wujR20wFhNM

Adel Smee – Inclusão – está na suas mãos

A palestra de Adel foi dedicada à diversidade e inclusão. Adel quer inspirar mais pessoas a trabalhar nesta frente, da maneira que fizer sentido para cada um.

Adel inicia sua palestra definindo dois conceitos:

Diversidade: “ser convidado para a festa”

Inclusão: “ser convidado para dançar”

Adel conta que quando tinha cerca de 14 anos teve seu primeiro contato com a programação e quando mudou de escola ela podia escolher uma matéria a mais para estudar e escolheu programação. Mas eles não deixaram, disseram que o que ela devia escolher era digitação. Ela demorou 11 anos para voltar para este caminho. Com esta experiência ela se sente na obrigação de “segurar a porta” para que outras pessoas possam entrar e não sejam excluídas como ela foi no início.

Adel aponta a importância da diversidade por uma outra lente: resiliência. Ela acredita que uma equipe sem diversidade pode ser extremamente eficiente em uma tarefa, mas esta equipe é capaz de sobreviver às constantes mudanças e se reinventar quando for necessário?

Adel pede nossa ajuda pois em anos de carreira ela sempre foi a única “expert de diversidade e inclusão” e diz estar cansada. É um trabalho com alta demanda de tempo e dedicação, ela precisa que outras pessoas se unam a ela neste trabalho.

E como podemos ajudar?

  • Motive a si mesmo. Como? Só você sabe como se motivar.  
  • Eduque-se. Não há uma única resposta de como melhorar a diversidade em tecnologia, estude diferentes autores, entenda diferentes perspectivas.
  • Estabeleça respeito e confiança. Suas ações precisam estar de acordo com suas intenções.
  • Pergunte. Agora que conseguiu a confiança das pessoas, pergunte a eles o que precisam.
  • Ouça. Ouça sem filtros, não tente interpretar os sentimentos da outra pessoa, pergunte para entender o que aquilo significa para ela.
  • Preste atenção. As pessoas que estão em situação de minoria podem não conseguir expressar o que precisam, cabe a você prestar atenção e entender como pode ajudar.
  • Identifique seus pontos cegos. Sua experiência e perspectiva são únicas, quando está auxiliando outras pessoas você precisa ter em mente que o que funcionou para você pode não funcionar para outras pessoas. Mesmo quando você é uma minoria não assuma que você terá a mesma perspectiva de qualquer pessoa desta minoria.
  • Encontre um projeto e faça. Identifique como você vai querer ajudar, use seu tempo para isto e faça acontecer.

Esta palestra foi extremamente inspiradora. É uma lição não apenas em inclusão e diversidade mas também de como melhor se relacionar com outras pessoas. E principalmente me motiva ainda mais a manter a chama da Academia Hopper acesa.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6QKA7LtYiG0

Observações finais

Você deve ter notado que não selecionei palestras técnicas para comentar, isto se deve ao fato de que as palestras técnicas foram interessantes mas não mudam vidas. Eu tenho uma queda por conteúdos que te inspiram a evoluir, que te abrem a mente para outras formas de pensar e interagir com o mundo, e neste aspecto a RubyConf foi inspiradora.